sexta-feira, 14 de junho de 2013

MINHA MINA CATARINA

Beco: Catarina Mina



Minha Mina Catarina

Vives noite de sizígia,
Rebuscas teus ancestrais
Nos porões sob tuas ruas
Que a maré invade, ocupa,
A desvendar sem ter culpas
Teus segredos, teus canais.

Tudo lançado pra riba
Pelos ralos das calçadas
De tuas centenárias ruas.
Em bafejar de serpente
Buscando por liberdade
Vem habitar tua brisa.
Emprenhar forma imprecisa
Gerada na embriaguez
De todo que te cultua.

Sonho acordar de sonhos,
Despertar de pesadelos,
Frutos de mente malina.
Ver amanhecer de vez,
Curvado à altivez
Da tua força menina.

Teus segredos ameaçam
Com eles me entrelaço.
Puro temor de degredo,
Não saber como termina.
Guarda-me no teu regaço
Que se cumpra, se é sina.

Logo sopra a viração,
A lama vira oficina
Que tudo ao belo destina.
Passo a tecer novos sonhos,
E num leve sacudir
Finas rendas, buriti,
Emolduram tuas meninas.

Me convidas a carícias,
Ouvir tuas ladainhas,
Passear escadarias.
Em firme, sublime marcha,
Luzida por lamparina.
A subir descer degraus
No Beco da Negra Mina.

Do Beco da Catarina
Subo pra cidade baixa,
Tambores da Praia Grande,
Cá vive um povo de cima.
Também é do Catarina
Que desço ao mundo de cima,
Onde Leões nos devoram,
Traição, carnificina.

É teu também Catarina
Tão belo sonho de mina:
Levar todos cá de baixo
Pra tudo mudar em cima.


Gerson Pinheiro
14 de junho de 2013